segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Artigo: Uma chuva de granizo em Vila Curuai

Por Pe. Sidney Augusto Canto

Corria o ano de 1926. Tudo estava tranquilo na Vila de Curuai naquele dia 27 de agosto não fossem dois fatos tristes que eram o motivo das conversas entre as pessoas da pacata localidade: o primeiro foi a da grande queimada dos campos do “Torrão”, que aconteceu no dia anterior. As autoridades estavam em busca do responsável pelo criminoso incêndio que vitimara grande número de marrecas que ali vieram por seus ovos que foram encontrados carbonizados aos milhares. Além disso, um grande número de bezerros, que se encontrava naquela região, também morreu. Foram consumidos pelas chamas assassinas que podiam ser vistas da orla lacustre da Vila.


Outro motivo das conversas daquele dia pacato era a grande migração das famílias para o igarapé denominado “da Pesca”. Muitas deixavam suas casas vazias para se instalarem provisoriamente no citado igarapé para pescarem o pirarucu, peixe que naquele ano abundava sobremaneira nas águas do lugar.

Tudo indicaria que seria mais uma tarde tranquila, quando por volta das 15h30 o tempo começou a mudar. O céu de verão, até então quase limpo de nuvens, se encheu da negritude das mesmas. Um forte vento levantou a poeira das ruas da Vila. Pessoas corriam para suas casas, portas e janelas eram fechadas, parecia que seria mais um dos costumeiros temporais de verão, mas não foi.

A tempestade veio acompanhada de um ar frio (vento sul?) que fez com que a população da Vila visse algo até então inédito: passado o impacto inicial da ventania, entre os relâmpagos e trovões, começou a chover pedras de gelo do céu (granizo). A água congelada caiu sobre a Vila Curuai por cerca de dez minutos. Tempo suficiente para causar grandes estragos. Um correspondente local do Jornal “A Cidade”, enviou para o mesmo, na cidade de Santarém, um relato dos estragos, assim descrito:

Foram diversas as casas que sofreram desarranjos com a tempestade do dia 27, convindo destacar a casa em que funciona a escola municipal desta vila e a do subposto sanitário “Castro Valente”, à travessa Lauro Sodré, que tiveram boa parte do telhado descoberta, a casa de comércio do sr. João Figueira, à rua do Comércio, que ficou com a parte fronteira quase toda destelhada, além de prejuízos decorrentes de estragos de mercadorias; as casas dos srs. Marcolino Duarte, Francisco Deodato de Miranda e Manoel Raimundo de Sousa, além de outras. Também o sr. Ricardo Figueira sofreu prejuízos com o desabamento total do barracão que lhe servia de oficina de construção de embarcações”.


Merece um registro especial o fato que seria destaque das conversas do dia seguinte: apesar dos estragos acontecidos nas casas ao redor, a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré (fronteira à casa do senhor João Figueira) que ficava onde o vento soprou mais forte, não sofreu nenhum tipo de avaria, nem sequer uma telha foi quebrada. O espanto suscitava comentários, por conta da recente festa realizada, que conotavam para alguns um sinal de castigo dos céus e, para outros, um milagre divino que lhes aumentou a fé.

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