quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Artigo: O Descimento da Cruz

Paulo Rodrigues dos Santos

O célebre Crucifixo doado por Martius, foi agora, em virtude os grandes reparos que se efetuam na Catedral, descido da sua cruz, no dia 5 de janeiro e transportado (por oito homens sob a vigilância de Frei Vianey) para a sacristia onde aguardará, como há cem anos, que seja novamente colocado no seu calvário.

Essa linda imagem de realismo impressionante e segundo os entendidos, perfeita obra de arte anatômica, tem sido por muitos anos o ponto alto nas visitas de turistas de alguma cultura que passam pela nossa cidade. Não há naturalista nacional ou estrangeiro, nem artista ou intelectual de valor, de qualquer credo, inclusive budista ou sem credo nenhum, como os ateus que deixam de comparecer a catedral para ver o tão falado ex voto de Martius.
A inscrição em placa de ferro ao lado que identifica a obra e sua procedência, tem sido copiada e recopiada milhares de vezes em todas as línguas do universo e publicada em numerosas obras de história, geografia, botânica, viagens, etc...
A bela estátua de ferro fundido que o naturalista bávaro ofereceu à matriz de Santarém em sinal de agradecimento a Divina Providência por havê-lo salvo de iminente naufrágio, tem uma história – quase diria uma Via-Crucis; - nem sempre isenta de certa irreverência e incompatível com a magnitude e santidade que envolve o assunto e com os sentimentos de piedade do notável homem que foi Carlos Frederico Felipe Von Martius.
Da primeira vez, quando chegou da Alemanha, aquele monumento de fé e gratidão de um sábio ao Redentor do Mundo, passou jogado nos fundos da Sacristia perto de vinte anos, antes de ser colocado na cruz. Talvez faltassem ao pároco os meios materiais para as obras, tendo ainda em vista o peso da estátua (cerca de meia tonelada) que dificultava a sua movimentação.
Esperamos agora que o digno sr. Vigário saiba expor em lugar de destaque o novo Calvário para o Cristo de Martius, já considerado patrimônio artístico religioso de Santarém.


NOTA: O presente artigo foi publicado originalmente em 15 de janeiro de 1966, no Jornal de Santarém, ocasião em que o autor assinou com o pseudônimo de SAULO TAPAJÔNIO, referindo-se ao Crucificado de Von Martius.

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