sábado, 18 de fevereiro de 2017

Artigo: Carnavais santarenos de antigamente... (Parte 04)

Pe. Sidney Augusto Canto

As décadas de 1940 e 1950 viram acontecer diversas mudanças no carnaval Santareno. A principal delas foi a solidificação, cada vez maior, dos bailes de salão. Por outro lado, os bailes promovidos nas residências das famílias santarenas, os “assaltos” e os “sustos” foram diminuindo até desaparecerem, para a felicidade de muitas “assustadas“ vítimas.


Em 1949, além dos bailes dos clubes, o carnaval de rua continuava a acontecer, conforme podemos ver na notícia publicada no Jornal de Santarém de 26 de fevereiro daquele ano:

Domingo, dia 27, a partir das 15 horas, na Rua João Pessoa, grande batalha de confetes seguida de empolgante préstito de 05 carros alegóricos sob o patrocínio do senhor Prefeito Municipal, do Comércio da nossa praça e da ZYR-9 – Rádio Clube de Santarém.
O desfile será formado pelos blocos carnavalescos: Camponesas Húngaras, Arlequins da Folia, Recreativenses, Chiquita Bacana e por mil e um foliões que queiram tomar parte nesta tarde de frevo.
Não esqueçam!
Sem chuva ou com chuva estaremos no frevo como entusiastas da pandegolia. Dá um sorriso morena bacana e entre na folia, mostrando que teu sangue tem o micróbio do samba...
Está, está melhorando está, estaremos todos na rua João Pessoa, a partir das 15 horas, para a monumental batalha de confetes.
A comissão organizadora do Carnaval de Rua, tendo à frente a entusiástica formada por Moacir Miranda, João Fona, Odete Matos, Wilma Fona, Ruthe Serruia e Algeny Dias, manifesta a sua satisfação pela acolhida espontânea e colaboracionista do sr. Prefeito Municipal, do Comércio de nossa praça e da ZYR-9, que dentro de suas possibilidades, num rasgo de alta fidalguia, vem dando decidido apoio a esta iniciativa.

A década de 1950 continuou vendo os bailes e as batalhas de confete no centro da cidade, com blocos de animação organizados por grupos de foliões, muitos deles, temporários, apenas para um ou dois anos de quadra carnavalesca.

Os bailes carnavalescos das sedes sociais viram, na década de 1950, o fim de muitas bandas de “Jazz” famosas. A principal delas, que encerrou sua existência em 1953, foi o “Euterpe Jazz”. Outras bandas que iniciaram a década de 1950 e, segundo Luciano Lopes dos Santos, ainda estavam em atuação no ano de 1952, eram:
- “Ring Orquestra”, dirigida por José Ramos;
- “Mocorongo Orquestra”, dirigida por Mimi Paixão;
- “Ideal Jazz”, dirigida por Daniel Cardoso;
- “Independência Jazz”, dirigida por Dinaor Pedroso;
- “Peter-Pan Jazz”, dirigida por Carlos Wangham;
- “Dragão da Folia Jazz”, dirigida por Nelson Wangham.

No entanto, os anos 1950 viram uma crise entre os músicos de Santarém. Da segunda metade desta década em diante (entrando pelos anos de 1960), vários grupos musicais se formavam apenas por ocasião dos Bailes, como, por exemplo, a “Orquestra José Agostinho”, que animou os salões do Recreativo ou a “Jazz Zé Ramos e Quidó”, que animavam os bailes do São Francisco em idos de 1958/9. “Os Lordes”, que animavam os bailes do Santarém Clube, entre outros, formados por músicos remanescentes das orquestras acima citadas, que animavam os bailes momescos.

O principal dos bailes de salão continuou sendo o do Centro Recreativo, agora realizado em sua nova sede social, construída nas proximidades da Praça da Matriz. O baile, além das máscaras, foi agregando novidades como os concursos de fantasias e, posteriormente, a partir do ano de 1950, o famoso concurso de Rainha do Carnaval do Centro Recreativo, juntamente com a escolha e coroação do “Rei Momo”. O concurso de Rainha do Carnaval, posteriormente, foi dividido em duas categorias: adulto e adolescente.

No entanto, o Recreativo já não era o único clube que imperava no Carnaval Santareno. Outros clubes foram surgindo e realizando bailes que caíram no gosto do povo. O São Francisco Futebol Clube era o grande rival do tradicional Recretivo, ainda na década de 1950. Mas outros ofereciam bailes carnavalescos, entre os quais citamos: o Santarém Clube, na Rua Floriano Peixoto; o Veterano Esporte Clube, no bairro da Aldeia, entre outros.
  
Para encerrar esta parte, falemos de um fato curioso acontecido no carnaval de 1969. No sábado gordo (15 de fevereiro), logo pela manhã, era assassinado o prefeito municipal Elinaldo Barbosa. O então delegado de polícia, era Maurício Castanho, pastor de uma igreja evangélica que, em virtude do falecimento do prefeito, proibiu a realização dos BAILES de CARNAVAL. Fato inusitado, mas apoiado no luto pela morte do gestor da comuna.

Enterrado o prefeito (no domingo gordo), o delegado começou a ser pressionado para revogar o decreto que proibia a realização dos bailes carnavalescos. A pressão foi grande, que três dias depois de expedido, o decreto foi revogado. Assim a terça-feira gorda acabou com o luto e o povo procurou os bailes e as ruas para brincar o carnaval. A única exceção foi o Centro Recreativo, que ainda chegou a preparar o baile (apesar do prefeito assassinado também fazer parte do quadro social do clube), mas teve que cancelar o mesmo, pois na manhã gorda de carnaval, chegava a notícia do falecimento do senhor Sampson Wallace, gerente da firma Marques Pinto e sócio do tradicional clube santareno que, pela primeira vez, deixaria de realizar o até então mais tradicional baile carnavalesco da cidade.


NOTA: Continua ainda neste mês. O blog agradece ao leitor João Oliveira pelo envio da foto do Carnaval de Rua em Santarém na década de 1960.

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