terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Artigo: Carnavais santarenos de antigamente... (Parte 02)

Por Pe. Sidney Augusto Canto

Os anos de 1930 foram anos de mudanças no carnaval santareno. Ainda continuavam a existir os bailes de salão e o carnaval pomposo das residências das famílias tradicionais. No entanto, em 1931, assumia o governo municipal o prefeito Ildefonso Almeida. Gestor que deu grande impulso cultural e administrativo à urbe tapajônica. Foi ele o primeiro gestor a organizar o CARNAVAL DE RUA em Santarém, oferecendo uma oportunidade para aquelas pessoas que não tinham condições de organizar bailes em suas residências.


 O povo iria realizar seu baile na rua. E a rua em questão tinha nome: era a João Pessoa (atual Lameira Bitencourt), no trecho compreendido entre a antiga ponte de embarque e a fábrica de gelo. Foi assim que o jornal “Gazeta do Norte”, de 06 de fevereiro de 1932, noticiou o primeiro Carnaval de Rua organizado pela municipalidade:

Por iniciativa do sr. capitão prefeito municipal, teve pela primeira vez [grifo meu] em Santarém, o corso carnavalesco, nos primeiro e segundo domingos, consagrados ao Deus da Folia, transportando os foliões no caminhão da prefeitura pelas principais ruas da cidade.
A Rua João Pessoa, no trecho compreendido da ponte de embarques até a fábrica de gelo, s. excia. transformou, assim, numa espécie de parque de diversões, circundando o ambiente de bandeirolas, palmeiras, arco alegórico, bancos espalhados por todos os passeios, etc..
O povo por sua vez deu-lhe mão forte, e assim, reunindo o útil ao agradável, efetuou-se ali; de modo não previsto, principalmente no último domingo e terça-feira, o verdadeiro carnaval, com batalha de confete, entrudo, etc., havendo dança animadamente ao ar livre, aos frenéticos acordes do Jazz-Euterpe, sob a direção do maestro Zé Agostinho, além de mais duas bandas de música.

Não sabemos quais eram essas duas bandas de música citadas pelo jornal. Segundo Wilson Fonseca, na obra “Meu Baú Mocorongo”, naquela época, existiam, além da citada “Euterpe-Jazz” (sob a batuta de José Agostinho da Fonseca), os seguintes conjuntos musicais: “Olímpia-Jazz” (sob a batuta de Raimundo Fona), “Independência-Jazz” (sob o comando de Luiz Barbosa Filho, popular “Quixito”), “Ideal-Jazz” (comandada por Daniel Cardoso de Melo) e, finalmente a “Sinfonia Franciscana” (sob a batuta do professor Luiz Barbosa – o pai). Esta última estava intimamente ligada às atividades religiosas sob o patrocínio de Frei Ambrósio Philipsemburg e, certamente, não era uma das que animavam os carnavais daquela época.

Além das brincadeiras de entrudo e confetes, esse primeiro carnaval de rua teve ainda diversões carnavalescas variadas, como o famoso (hoje proibido) lança-perfume, bisnagas (que ardiam os olhos), além do trigo que era jogado a esmo pelo “Malheiros” e sua turma. Esse primeiro carnaval de rua contou com a participação do “Club dos 21”, coordenado pelo “velho Moraes”; na cantoria, destacava-se Joaquim Toscano. E continua o jornal, acima citado:

Havia várias fantasias, das quais, na nossa opinião, em originalidade e graça, destacavam-se as seguintes: Das senhorinhas Célia Castro, Tutica Motta, e irmãs Vieira; interessantíssima estava, apesar de ser comum a sua fantasia de boneca; a senhorita Fortunata Bastos, com a sua graça peculiar e bom gosto. Também se destacava como representante “legítima” da velha e tradicional China, a senhorita Auristella Almeida; e as senhorinhas Ilka Velloso e Cacelina Maciel que, ostentando um traje de xadrez, tentavam a gente a jogar dama. Além dessas haviam muitos outros de menos destaque com o A. B. C., etc.

Como se pode ver, ao contrário do que se possa pensar, o carnaval santareno era muito participativo também pelas mulheres. Aliás, a foto que ilustra esta parte deste artigo é justamente a de um grupo de senhoritas santarenas que brincavam no carnaval de 1930, quando este ainda predominava nas residências de ilustres famílias em um instantâneo tirado por Apolônio Fona.

É salutar lembrar, também, que o prefeito Ildefonso Almeida foi responsável pela realização do primeiro “Carnaval fora de época” em Santarém. O fato se deu no “Sábado de Aleluia”, no ano de 1933, e foi realizado no Bosque Municipal 06 de Outubro.


NOTA: Continua ainda neste mês.

Nenhum comentário:

Postar um comentário