sexta-feira, 9 de junho de 2017

Sobre uma importante Comissão Científica em Santarém – 1890

É este o teor do ofício dirigido ao Governador do Pará pelo capitão José Soares de Souza Fogo, chefe da Comissão de Socorros à Expedição Científica:

Bordo da Lancha Nº 01 da Flotilha do Amazonas, surta em Santarém, 01 de Setembro de 1890.
Tenho a satisfação de vos participar que a Expedição sob meu comando, tendo saído de Manaus à 09 de junho, chegou à 14 à Ilha Goyana, onde, deixando ancorada a lancha, passou-se para uma igarité, subindo as cachoeiras do Tapajós, em cujo percurso gastou 22 dias; entrando no rio São Manoel, gastou 19 dias de viagem, penosíssima e aventurosa, até encontrar a Comissão Científica, logo abaixo do Salto Tavares, em cujo alto permaneceu por seis longos meses a Comissão, sem o poder descer.
Nesse acampamento ficou enterrado o inditoso capitão Antônio Lourenço Telles Pires, que sucumbiu, vitimado pelas manifestações palustres que lhe apareceram.

A comitiva compunha-se de 28 pessoas quando partiu de Mato Grosso, ao passo que eu só pude salvar 09 pessoas, inclusive o engenheiro capitão Dr. Oscar de Oliveira Miranda, cujo aspecto era por demais contristador, pois com segurança não resistiria aos sofrimentos que lhe minavam a existência, por período superior a três dias!
O seu estado era lastimável e os incômodos eram os mais graves; e assim, se sucumbisse, é de presumir que poucos lhe sobrevivessem, em razão de não terem embarcação em que pudessem se transportar para vencerem as inúmeras e perigosas cachoeiras que, logo abaixo, crivam o estuário desse tributário do Tapajós.
Minha Expedição sofreu diversas alagações, tais são as perigosas corredeiras que embaraçam a navegação do São Manoel.
Aguardamos a passagem do vapor da 1ª linha para conduzir-nos a Manaus, onde terá termo a arriscada e trabalhosa missão que aprouve ao ilustrado governador do vizinho Estado confiar-me, em falta de pessoa mais hábil e competente.
Até o encontro com aquela Comissão, só pode acompanhar-me parte do pessoal que trouxera daquela capital, pois que sete pessoas ficaram doentes em pontos diversos, e apenas dois marinheiros puderam comigo chegar ao salto Tavares.
Cumpro um dever de rigorosa justiça, pondo em relevo a valiosa e eficaz coadjuvação que desinteressadamente me prestaram os distintos cidadãos Torquato José da Silva Franco e José Ausier de Macêdo, sem cujo auxílio difícil, se não impossível, me seria chegar a tão remota quão distante região.
Saúde e Fraternidade.
Ao cidadão dr. Justo Leite Chermont, digníssimo Governador do Estado do Pará.
José Soares de Souza Fogo, capitão.


NOTA: Publicado no jornal A Tribuna de 27 de Setembro de 1890

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