sexta-feira, 9 de junho de 2017

Um Prelado Missionário


Há dois meses faleceu Dom Frei Amando Agostinho Bahlmann (foto), Bispo titular de Argos e Prelado de Santarém, no Pará.
Doutor em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, aqui aportou em 1892 e naturalizou-se brasileiro.
Ocupou importantes cargos em sua Ordem e assinalados serviços prestou ao nosso País, como apóstolo e bispo missionário durante um longo período.

Identificado perfeitamente com os nossos costumes, as suas atividades revelam, em alto grau, a dedicação pelas coisas do Brasil, demonstrando assim a eficiência do Apostolado cristão em nossas plagas.
Dentre muitos, citaremos apenas um exemplo de sua vida cheia de benemerências.
A colonização germânica, italiana e polaca estava em pleno florescimento em Santa Catarina, e a luta renhida foi travada com o elemento nacional – o nosso índio, que era rechaçado em toda a linha, de suas terras.
Os nossos governos já eram impotentes contra a carnificina que assolava então aquelas paragens.
Jornais escritos em alemão, na cidade de Blumenau instigavam até os colonos à reação destruidora, por meios violentos.
Assistimos então aos inomináveis massacres dos brasileiros que se foram, por essa forma, extinguindo, de cujos crimes são responsáveis os interesses políticos então dominantes.
Pois uma voz levantara-se naquela ocasião.
A palavra de D. Amando, então simples missionário franciscano, desempenhando funções do seu cargo nesta zona do sul, foi como um brado de protesto veemente contra o martírio de nossos patrícios.
Em um folheto especial fez circular a defesa dos silvícolas, apelando para os nossos sentimentos de caridade e patriotismo.
Já era tarde, talvez, mas a nossa gratidão deve ser imorredoura, em nome das vítimas em holocausto dos interesses nacionais em jogo.
Se já nos primórdios de nossa história assistimos o Jesuíta pugnando em favor do índio, 400 anos após, ainda a voz do Missionário Católico ecoava pelas nossas plagas em pregações cívicas e patrióticas.
Perde assim a Igreja Missionária um grande e virtuoso apóstolo, e o Brasil um dedicado servidor, a cuja memória rendemos gratas homenagens.
V. M.


NOTA: Artigo publicado no jornal Rio-Negrense de 14 de maio de 1949.

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