sábado, 15 de julho de 2017

Momento Poético: Modinha para violão (1867)

De Juiz uma vara me deram,
Para poder este povo mandar,
De Juiz em cartuxo tornei-me
Para livre poder cartuxar.

Pirulito que bate que bate
Pirulito que já bateu,
O Cartuxo lambe os beiços
Das Ovas que já comeu.


Alcagote eu sou té de negras,
De furtar sempre tive o condão;
De calúnia, mentira e rapina,
É formado o meu bom coração.

Pirulito que bate que bate
Pirulito que já bateu,
Cartuxo na chafarica
Faz figura de sandeu.

Que se importam que furte, que minta?
Isso faço por triste fadário,
Quem me avista bem, pode dizer:
“Tu não passa de vil salafrário”!

Pirulito que bate que bate
Pirulito que já bateu,
O Cartuxo tem saudades,
Das Ovas que não comeu.

NOTA: Poesia escrita em Óbidos, PA, a 08 de dezembro de 1867.

Publicada em Jornal da capital amazonense (Rio Negro), e assinado apenas com o pseudônimo de “Formiga Doida”, é uma crítica ao Juiz da recém-criada Comarca de Óbidos, acusado de “vender sentenças”. Na época, conforme se pode constatar em alguns jornais da capital do império, um bacharel ser nomeado para a comarca de Óbidos era semelhante a ser condenado ao degredo.

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