quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Desvendando os segredos do sertão brasileiro – 1928

O Sr. dr. Washinton Luiz, Presidente da República, recebeu o seguinte radiograma precedente de Óbidos:

Cabeceira do rio Caminá [sic], 15 de Novembro.
Tenho a honra de congratular-me com v. Exa. pela comemoração da gloriosa data de 15 de Novembro. Viajamos a 350 quilômetros ao norte de Óbidos, próximo à faixa da fronteira, a qual devemos atingir dentro de uma semana.
Temos encontrado sérias dificuldades no transpor as cachoeiras, uma das quais, a de Paciência, consumiu-nos oito dias de insanos trabalhos.
Alcançamos ontem a boca do Rio São João, o ponto mais alto atingido pela sra. Condreau, viajante que mais próximo chegou da fronteira da Guiana Holandesa, dentro do Brasil.
Viajamos hoje por partes desconhecidas, nunca atingidas pelos portugueses. Gozamos saúde.

Descobrimos um grande balatal, desconhecido até hoje pelo governo do Pará, o que facilitará o povoamento de Cumura, acima e ao lado de Salgado. Além do balatal, descobrimos grande castanhal próximo ao Rio das Contas. A  riqueza de seus grandes campos encerra economia aproveitável, tão logo se abra a estrada de rodagem que ligará a Guiana a Óbidos e à fronteira, e que merece a atenção do governo pelo seu excelente clima, pois, apesar de estar situado próximo  ao equador, a temperatura máxima observada à sombra é de 30 graus e a  mínima de 19 graus. Os campos são semelhantes aos do planalto, cuja flora e fauna muito se assemelham, o que nos causa admiração.
Os índios panocotos, que encontramos, são robustos e nenhum apresenta sintoma de moléstia e indicam que mantêm relações comerciais com a gente da Guiana Holandesa, a julgar pelos objetos que encontrámos em sua maloca. Os índios são negros e alegres.
Marchamos para frente, animados pela grandeza de nossa pátria.
Saudações (a) general Rondon.


NOTA: Publicado no jornal O Estado de 14 de dezembro de 1928

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