segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Sobre o preço da carne em Santarém em 1949

Todos estão no conhecimento do que foi a grande enchente deste ano.
Os rios cresceram tento que suas aguas em espumejante arrebentação, invadiram as várzeas e campos de criação, tentando tragar tudo com a sua força descomunal.
A fúria destruidora das águas somente é contida pelas defesas naturais dos terrenos, como sejam, os planaltos e os morros.
Infelizmente, porém, nem todos os criadores possuem as chamadas terras altas, para resguardo do seu gado vacum, dos seus cavalos, dos seus porcos.
Daí os grandes e inevitáveis prejuízos causados pelas enchentes.
Criadores há, que perderam tudo, como gado, currais, criação e até as barracas ficaram inutilizadas.
Causa tristeza o espetáculo desolador que se depara em certas fazendas que antes eram prósperas e das quais agora unicamente restam os vestígios daquela prosperidade.
Quem tinha mil ficou com cem e quem tinha cem ficou com dez.

A arrogância espetacular da enchente destruiu tudo que estava ao seu alcance. Água e terra mediram forças sob os olhares estarrecidos e desolados dos fazendeiros criadores que nada podiam fazer, para enfrentar o tumultuar incessante do líquido elemento.
Diante de tanto prejuízos, de tamanha calamidade, há agora grande dificuldade para os marchantes em conseguirem gado para o abastecimento da cidade. Não é somente a dificuldade em conseguir gado, é que, o pouco que há, custa altos preços. Os criadores não querem dispor das poucas reses que lhe restaram.
Em vista disso, os marchantes procuraram o sr. Prefeito Municipal, expuseram a situação e solicitaram permissão para elevar o preço do quilo da carne verde no mercado, para seis cruzeiros.
O sr. Prefeito, conhecedor do assunto, estando a par da situação angustiosa dos nossos criadores e fazendeiros, permitiu que provisoriamente, isto é, que enquanto perdurarem as dificuldades já sabidas a carne seria vendida a seis cruzeiros o quilo e tão logo a situação se normalize, essa permissão será anulada.
Cabe aos poderes públicos se movimentarem em auxilio dos criadores e também do povo, de vez que pior será se o povo ficar sem o seu principal alimento que é a carne. As autoridades não poderão obrigar os fazendeiros e criadores a vender o seu gado com prejuízo, aumentando as dificuldades dessa classe que acaba de lutar com uma enchente calamitosa e horrível.
O povo sensato e ordeiro deve compreender a situação em que ficaram os criadores arcando com prejuízos quase totais, sendo forçados por isso a exigirem um preço maior pelo seu gado, o que vem consequentemente forçar o aumento do quilo da carne no mercado, o que será apenas de um cruzeiro em cada quilo.
Felizmente a grande enchente passou e estamos certos de que os nossos caboclos, apesar dos prejuízos que a calamidade da enchente lhes trouxe, com o seu espirito de desprezo a tudo que se oponha aos seus ideais e anseios, vencerá, com o esforço e a tenacidade característica do seu patriotismo e de sua coragem indômita.

NOTA: Publicado no Jornal de Santarém de 06 de agosto de 1949.


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