sábado, 10 de março de 2018

Os afamados “Bonecos de Pano” fabricados em Santarém – 1934


Surpreendeu-nos agradavelmente, a ponto de entusiasmar-nos a grafar estas linhas, a coleção de bonecos de pano que a “Porta Larga” tem a dias em exposição.
Já conhecíamos trabalhos similares, aqui mesmo colecionados, mas sem o acabamento e a originalidade que presidem as que ora nos ocupam a atenção.
Os bonecos a que nos referimos, criação de modestas, mas inteligentes moças conterrâneas, são bem a prova do gênio inventivo de nossa gente, em cujo meio, de vez em vez, surgem verdadeiros artistas, que a falta de recursos não dá asas a maiores voos.
Os trabalhos expostos na “Porta Larga”, pelo gosto artístico que revela a pacharra dum trabalho manual organizado por uma força de vontade capaz de superar a exiguidade de elementos materiais de que se ressente o meio, se tivessem origem estrangeira ou apresentassem ao menos rotulagem de extramuros, teriam certamente o sabor das grandes novidades, das importantes criações que a Europa nos envia a preços fabulosos.

E é esta, uma das razões que nos movem a vulgarizar, incentivando-a, uma nascente indústria local, que honra sobremodo a nossa terra e coloca em relevo o nome das modestas artistas, suas organizadoras.
Digna, pois, de atenção pública é a exposição de bonecos da “Porta Larga”, motivos porque os nossos leitores não perdem com visita-la, mas concorrerão para que seja melhor apreciado um trabalho merecedor de todo estímulo e do amparo de quantos votam a esta terra um pouco de dedicação.
Dentre os bonecos, ora expostos, merecem especial menção, pela sua originalidade: o Lenhador, o Violinista, a Lavadeira, a Cuieira, os Noivos e a Servente, sendo que, pelo esmero de confecção, não há distingui-los dos demais.
Às inteligentes autoras dos originais bonecos, senhorinhas Vasconcelos, cumpre-nos, estimulando-as a prosseguirem a sua apreciável tarefa, lembrar-lhes a criação de tipos regionais, tipos nossos, que maior valor darão ao seu trabalho, já apreciado como obra de arte.


NOTA: Publicado no Jornal de Santarém de 02 de junho de 1934.


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