segunda-feira, 7 de maio de 2018

Sobre um escravo da cidade de Santarém em 1881

Ontem, pela manhã, presenciamos, na nova ponte da guarda-moria, um espetáculo realmente repugnante.
Um alferes de polícia punha em forma uma força do mesmo corpo, composta de 7 praças, um cabo e um corneta, e entre as alas dos soldados figurava um preto já idoso, tendo na mão direita um embrulho com roupa e a esquerda uma corda, na qual estava preso um cão.
Era talvez um grande criminoso!

Dirigimo-nos a força, e perguntamos ao cabo por que estava preso aquele homem?
- E um escravo que vem de Santarém para ser vendido, respondeu ao colega do “Diário de Belém” e a nós.
- Um escravo! E o que fizeste para aqui estares guardando por tantos soldados?
- Nada, senhor, venho ser vendido. Chamo-me Gabriel, e nem consentiram que minha mulher e filhos, que são livres, me acompanhassem! Para me separarem da minha família inventaram que eu tentei flechar o inspetor do quarteirão!
Vergonha...
Muita gente acudio a presenciar esse vergonhoso espetáculo, amostra degradante da nossa civilização.
Mercadejem muito embora com a carne humana, rompam os indissolúveis laços do coração, separando filhos, mas, por Deus, não se sirvam da força pública para envergonharem a sociedade, como ontem fizeram na poute da guarda-moria!
Vergonha !...

NOTA: Publicado no jornal Diário do Grão-Pará de 26 de julho de 1881, sob o título “Um espetáculo repugnante”, lembrando que o repugnante em questão, não era o fato da escravidão ou da separação imposta àquela pobre família, mas o fato de uso da força policial para vigiar um processo de venda de escravos.

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